Ser brasileiro é ser amado no exterior

Eu sei que isso não acontece em alguns países mas na República Tcheca acontece!

Ontem, dia internacional da mulher, foi um daqueles dias onde se sai pra andar no shopping e se vê um monte de gente (homens, em maioria) comprando flores para suas parceiras. Não que o cidadão tcheco seja romântico (e não é), mas o que vale é a intenção.

E, bem, eu estava lá pra fazer a mesma coisa: Comprar flores.

Estou estudando tcheco mas ainda não consigo falar muito bem. Digamos que meu diálogo funciona por 3 minutos antes de eu começar a falar coisa sem sentido ou parar de entender o interlocutor. Por causa disso eu sempre prefiro perguntar se a pessoa fala inglês logo de cara. Quando não, bem, bate o desespero e vamos que vamos em tcheco mesmo.

Voltando às flores: Depois de andar um pouco no shopping e comprar algumas coisas pra mim, consegui achar uma floricultura. E, como disse acima, lotada de namorados/maridos desesperados. Cheguei na porta e fiquei observando as flores que lá estavam. Não queria algo muito sofisticado e nem as clássicas "rosas vermelhas". Talvez um vasinho com algumas flores que vão resistir por algumas semanas já estaria bom demais.

Depois de uns 10 minutos esperando ser atendido, uma vendedora chega até mim:

- Boa tarde! Em que posso ajudar? (em tcheco)
- Boa tarde. Você fala inglês? (em inglês)
- Sim, falo.
- Ótimo! Gostaria de saber um pouco sobre essas flores aqui...

E ficamos conversando por um tempo sobre flores até que eu conseguisse escolher algo e ela perguntasse se eu queria embrulhar pra presente. Como as flores eram pra minha namorada, bem, claro que eu queria embrulhar pra presente. E, olha, ela realmente estava com vontade de embrulhar as flores: Corta papel daqui, mede um pedaço de pano ali, faz o laço agressivamente, se concentra pra medir mais papel, etc. Parecia aqueles chefes franceses extremamente concentrados em preparar a comida do presidente.

Depois daquele show (sério) chegou a hora de pagar 229 coroas tchecas (por volta de 28 reais):

- São duzentos e vinte oito coroas.
- Ok, cartão por favor.
- Aham.

Quando eu olho pra maquininha e vejo que ela colocou 229 ao invés dos 228 que ela falou:
- Er... Então, acho que você errou um número aí.
- Oi?
- Sim, olha. Você falou 228 mas colocou 229.
- Ah, desculpa. Eu tenho problemas com números em inglês. São 229, olha aqui - me mostrando a lista de preços
- Tudo bem, sem problemas - digo - também tenho problemas com os números em tcheco. Principalmente com dvanáct (12) e devatenáct (19).
- Esses números são difíceis mesmo. De onde você é?

Pausa.

Normalmente, quando eu respondo essa pergunta, vejo o mesmo tipo de reação: Pessoas perguntando falando sobre samba, sobre o Ronaldinho, sobre o carnaval, etc. As vezes perguntam sobre as praias ou se eu falo espanhol. E sinceramente já esperava por isso. Mas:

- Eu sou do Brasil.
- Brasil?! - abre os braços e começa a "cantar" e dançar Aquarela do Brasil.

Eu fiquei sem saber o que fazer. Foi completamente inesperado. Todo mundo na loja olhando pra gente e ela não tava nem aí. E ela só parou depois que outra funcionária da loja começou a rir e implorou pra ela parar. Procurei sair logo da loja. Vai que ela tira um cavaquinho detrás do balcão e começa a tocar Brasileirinho?

Conclusão: Ainda somos amados mas não sei se volto naquela loja.